domingo, 5 de julho de 2009

A FORÇA DO CANTO DO PARDAL



O que fazem os poetas quando não têm inspiração? Não sei! De onde vem a tal inspiração? Da natureza? Do belo? Mas, onde está o belo? O que é o belo? por qual motivo ele não se nos manifesta espontaneamente e nos salta a olhos vistos?

Dizem que o belo é o mais abstrato, menos palpável de todas as qualidades que podem existir. E parece que é mesmo, pois hoje, ao escrever este artigo, só consigo sentir ou pressentir a sua ausência. A beleza não me é evidente.

Noutros dias sim. Mas, hoje não. Hoje o dia está cinza. Lá fora – estou na casa do bispo de Quixadá, trabalhando – canta um pardal bem sonoro. Mesmo aí, desconheço a beleza. Sei que o canto é belo, mas alguém o estragou.


Foi o belo que se tornou feio ou fui eu que estraguei o belo. Ah, que crueldade? Ah que pardalzinho insistente que não se cansa com seu canto de tentar me devolver a sensibilidade dos poetas.

Calma, peraí! Ele parou, parece até que ou sentiu meus sentimentos abúlicos, ou começou a ler o que estou escrevendo e ficou tímido. Canta pardal, continua cantando, não para não! Por favor, já estava me empolgando com teu canto.

Ele parou realmente; agora, é só silêncio. Silêncio que faz vibrar cordas sonoras da alma e, em conjunto, a harmonizar-se produzindo a melodia da paz. Talvez a falta de inspiração motive a paz, traspassada pela mais cruel ausência de sensibilidade para descobrir o belo.

Assim agem os poetas: fazem silêncio. E, de tanto fazer silêncio, eles se tornam ensurdecedores. Quem muda o mundo são os poetas com suas poesias. “Por onde passa uma idéia, cem anos depois passam os canhões”, já dizia o velho Hegel. Creio que a poesia é mais forte.

Por onde passa uma poesia, no mesmo instante corações e mentes são dilacerados e reconstruídos.

Opaaaa... o pardalzinho voltou a cantar. Será ele percebeu que a inspiração de certa forma voltou à minha alma, ou será que ele continuou a ler este texto?

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