sábado, 17 de outubro de 2009

REFLEXÃO: Que ninguém tolere chegar à pena do pavão


A PENA DE PAVÃO



Conta uma lenda árabe que um nômade do deserto resolveu, certo dia, mudar de oásis. Reuniu todos os utensílios que possuía e de modo ordenado, foi colocando-os sobre o seu único camelo.

O animal era forte e paciente. Sem se perturbar, foi suportando o peso dos tapetes de predileção do seu dono. Depois, foram colocados sobre ele os quadros de paisagens árabes, maravilhosamente pintados.

Na seqüência, foram acomodados os objetos de cozinha, de vários tamanhos. Finalmente, vários baús cheios de quinquilharias. Nada podia ser dispensado. Tudo era importante. Tudo fazia parte da vida daquele nômade, que desejava montar o novo lar, em outras paragens, de igual forma que ali o tinha.

O animal agüentou firme, sem mostrar revolta alguma com o peso excessivo que lhe impunha o dono. Depois de algum tempo, o camelo estava abarrotado. Mas continuava de pé. O beduíno se preparava para partir, quando se recordou de um detalhe importante: uma pena de pavão.

Ele a utilizava como caneta para escrever cartas aos amigos, preenchendo a sua solidão, no deserto. Com cuidado, foi buscar a pena e encontrou um lugarzinho todo especial, para colocá-la em cima do camelo. Logo que fez isso, o animal arriou com o peso e morreu.

O homem ficou muito zangado e exclamou: ”Que animal mole! Não agüentou uma simples pena de pavão!”

2 comentários:

  1. (...)O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
    Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semi-real, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificante.
    (A insustentável leveza do ser - A leveza e o Peso-Milan Kundera).As penas assim,dissipam-se!

    ResponderExcluir
  2. "Virtus in medio" (a virtude está no meio), já nos lembrou o grande Aristóteles. Sempre rejeitei o realismo exacerbado, da mesma forma que o idealismo inveterado. O peso que atrai o camelo ao chão o esmaga, assim como a mera leveza da pena, hipoteticamente, o faz voar. Contudo, lembro que, neste último caso, ele se sente mais leve, mais apto a seguir sua caminhada e, quiça, mais feliz em conduzir ao dorso o seu dono. Prefiro mil vezes a liberdade da pena, mesmo correndo o risco de ser taxado de insignificante, a morrer sob o jugo do pesado fardo da realidade, que esmaga e oprime. Desta pressionante, dura e cruel realidade estou tentando me libertar e tentando encontrar migalhas de felicidade num mundo não tão mascarado, nem hipócrita como o mundo das bagagens impostas ao camelo.

    ResponderExcluir