terça-feira, 6 de outubro de 2009

A VITÓRIA DO BEM SOBRE O MAL

Eustachius Kugler



Beatificado religioso que resistiu a políticas nazistas

Irmão Eustaquio Kugler, membro da ordem de São João de Deus

REGENSBURGO, segunda-feira, 5 de outubro de 2009 (ZENIT.org)
Nem o medo frente à pressão nazista nem a rejeição às pessoas deficientes que seu país vivia com o nacional-socialismo de Hitler puderam apagar a intensa espiritualidade e o amor para com os limitados físicos do irmão Eustaquio Kugler.
A diocese de Regensburgo celebrou ontem sua beatificação, em uma cerimônia presidida por Dom Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e enviado de Bento XVI.

Pastoral com os deficientes

Seu nome de batismo era José. Aos 16 anos, enquanto trabalhava em uma construção, caiu de um andaime, à altura de 4 metros, e teve uma torção no pé e uma ferida que o limitaram por toda vida.

O irmão Kugler, (1867 – 1946) ingressou aos 26 anos na ordem de São João de Deus, depois de ter entrado em contato com esta comunidade durante a construção de um hospital em Reichenbach (Alemanha).

Durante quase toda sua vida religiosa foi prior de diversas comunidades e de sua província religiosa. Cargo ao qual era reeleito por vontade dos próprios membros da ordem.

Tinha um grande sentido de justiça e um talento para a organização. Sob seu mando estavam 16 hospitais com 2.500 pessoas assistidas. Em 1929, inaugurou-se um magno hospital com sua igreja em Regensburgo, em honra a São Pio V.

Preocupou-se que se atendessem principalmente os pobres. Escreveu os critérios para acompanhar os enfermos nos hospitais que se regem atualmente. Ainda com esta responsabilidade, passava as noites caminhando pelos corredores do hospital velando pelas necessidades dos enfermos.

“Nós que trabalhamos no campo da deficiência sabemos que as pessoas abrem-se apenas com que tem o coração aberto a elas. O irmão Eustaquio Kugler foi um grande modelo deste enfoque”, afirma Ubli Doblinger, atual responsável da pastoral do centro para pessoas deficientes de Reichenbach, em um vídeo editado por Max Kronawitter.

Para o postulador de sua beatificação, o irmão Félix Lizaso, Kugler viveu seu chamado no meio de dois importantes pilares: “uma realidade existencial profunda em comunidade, com uma vida de fé e espiritualidade e uma vida de entrega aos enfermos”, disse a Zenit.

Perigo nazista

Como muitas outras ordens religiosas e a própria Igreja, os irmãos de São João de Deus eram rejeitados pelos nazistas. Também o eram os próprios enfermos que eles atendiam. Muitos foram deportados, já que os nazistas os consideravam um tumor para a sociedade, mas o irmão Kugler pôs todo seu empenho para salvá-los da câmara de gás.

No dia 17 de agosto de 1943, houve um grande bombardeio sobre Regensburgo. Os arredores do hospital foram destruídos. Mas o centro de saúde ficou intacto. “Podemos dizer que aqui há um santo, que nos salvou da guerra e das bombas”, dizia um pastor evangélico.

Padre Lizaso conta que um dia Hitler passou em frente ao hospital. Todos correram às janelas para vê-lo. O irmão Kugler, em contrapartida, não quis olhá-lo e dizia para seus irmãos: “nosso Fuhrer vive ali”, apontando o sacrário.

“Nunca ia a nenhum lugar se não era com o rosário na mão. Era um homem muito reto. Com espírito de oração, de recolhimento, de humildade”, assegura seu postulador.

Sofreu muito com a devastação nazista. Suportou mais de 30 interrogatórios da Gestapo. Foi tal sua impressão que durante um destes caiu desmaiado.

“Além de não delatar nenhum irmão, nem outras pessoas, manteve grande silêncio em sua comunidade sobre os interrogatórios e trato recebido. Nem se queixou nem insultou os policiais”, testemunha Lizaso.

Houve irmão que abandonaram a ordem, deslumbrados com as ideologias nazistas. Isso atingiu profundamente Eustaquio. Mas, mantendo a calma, referia-se aos nazistas dizendo: “esta árvore não crescerá até o céu”.

“Não era uma pessoa de estudos teológicos oficiais, mas de uma espiritualidade acética profunda, uma inegável vivência mística por sua vida interior e profundidade de fé, que acompanhava seus atos em autêntica resposta de amor a Deus”, assegura seu postulador.

O irmão Kugler morreu em 1946 de um tumor no estômago. Passaram mais de 60 anos de sua morte, e hoje seus irmãos, assim como milhares de fiéis em Regensburgo, admiram dele a simplicidade, sabedoria e espírito de serviço.

(Carmen Elena Villa)

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